segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Presépio



http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=616&Itemid=181


Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br

                           
Algumas tradições natalinas, tais como a árvore de Natal, o presépio, a lapinha ou pastoril  ainda estão bem conservados, em particular no Nordeste do Brasil.

O presépio, de acordo com Câmara Cascudo, é a cena de adoração ao Menino Jesus na manjedoura de Belém. Em torno de Jesus estão Nossa Senhora, São José, alguns pastores e animais. Depois do dia 6 de janeiro, é que aparecem os três reis Magos – Baltazar, Gaspar e Belchior. Baltazar, rei da Etiópia, traz o incenso aromático, símbolo da divindade de Cristo; Gaspar, o rei de Tarso, traz a mirra, significando que Cristo é Deus e homem e que, como homem, irá morrer; e Belchior, rei da Arábia e da Núbia, é o portador do ouro, que simboliza o poder.

Cabe registrar que a palavra presépio advém de praesepe ou presepi um que, em latim, significa estábulo, curral, ou seja, a representação do estábulo de Belém. O presépio representa um legítimo auto natalino, estando relacionado, intimamente, à história do nascimento de Jesus.

Até hoje, não se pode afirmar, com toda a certeza, a data em que Jesus nasceu e morreu. Presume-se que tenha sido no mês de nisã que, no calendário judaico, encontra-se entre os meses de março e abril, período onde os judeus celebram a sua libertação da escravidão do Egito, bem como a longa sobrevivência no deserto. Sabe-se que o dia do nascimento de Jesus, 25 de dezembro, foi estipulado pelo abade, teólogo, matemático e astrólogo Dionísio (500 – 560 d.C.).

Os rituais religiosos, como o culto à Virgem Maria, adquiriram uma força maior no século IV d. C., inspirados nas deusas virgens pagãs greco-romanas, que eram adoradas em florestas, rios e grutas. Segundo a lenda budista da Natividade, por exemplo, a jovem Rainha Maya também era virgem, e carregou o Buda em seu ventre durante dez meses lunares.

Atribui-se a São Francisco de Assis, por volta do ano 1223, a ideia de montar o primeiro presépio, em uma gruta de Gréccio, na Itália. Ao representá-lo, ele colocou os bois, a vaca, o burro, os três Reis Magos com seus camelos e alguns pastores. A presença dos animais, na cena da Natividade, seria justificada pelo fato de os mesmos representarem, na mitologia egípcia, os animais simbólicos dos irmãos rivais Seth e Osíris. Neste sentido, sua inclusão no presépio dar-se-ia, principalmente, para reconciliar os opostos, segundo a concepção de Jesus Cristo: Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos(Mateus 5:44).

Em Lisboa, cabe salientar, o primeiro presépio de que se tem registro foi armado em 1391, pelas freiras do Salvador. Na Região Nordeste, por sua vez, os estudiosos atribuem ao franciscano Frei Gaspar de Santo Agostinho, no século XVII, a introdução do primeiro presépio na cidade de Olinda. Somente por volta do século XVI, ou seja, três séculos depois de ter sido criada a simbologia do presépio, é que a dramatização da Natividade teve o seu início.

Acredita-se que a ênfase na virgindade de Maria levou os jesuítas a criarem versos, para os presépios, a fim de que os índios catequizados pudessem entender o referido mistério. Em um desses versos, há um diálogo entre caboclos e índios e, no final, os últimos explicam como ocorreu aquele milagre.


Pastores – Quem são vocês?
Índios – Caboclinhos de aldeia.
Pastores – Aonde vão?
Índios – Vamos a Belém.
Pastores – A ver o que?
Índios – Jesus nosso bem.

Passa o sol pela vidraça
Já passou sem tocar nela
Assim foi a Virgem Pura
Levou Luz ficou donzela.


Existe a tradição de se queimar os presépios no dia 6 de janeiro, para não correrem o risco de ser profanados. Na Região Sul do país, nesse mesmo dia, os presépios são jogados em rios ou riachos. É possível se perceber, desse modo, o respeito que os homens ainda possuem ao fogo e à água - elementos da natureza que os vêm desafiando e fascinando desde os primórdios da civilização - e que impediriam, segundo a crença, a profanação do sagrado.

As lapinhas (ou pastoris), do final do século XVIII até o princípio do século XX, exibiam-se diante dos presépios, em igrejas ou residências particulares, divididas pelos cordões encarnado e azul.

Os primeiros presépios difundidos pelos franciscanos e dominicanos foram elaborados em terracota ou madeira. Mas, encontram-se presépios feitos com os seguintes tipos de materiais: porcelana, barro, resina, madeira, bambu, palha de milho, vidro, esponja, fibras e outros. No Estado de Pernambuco, em especial nos pólos artesanais de Caruaru, Olinda, Tracunhaém e Petrolina, os presépios são feitos em barro e colocados no forno para queimar. Alguns deles são pintados depois.

Na cidade do Recife, ficou bastante conhecido o Presépio dos Irmãos Valença (João e Raul), quando eles reconstituíram todo o espetáculo que, pela primeira vez, fora encenado por seu avô - João Bernardo do Rêgo Valença - no ano de 1865, tempo da guerra do Paraguai. O pai daqueles músicos continuou a tradição e encenou o presépio durante muitos anos. Os irmãos Valença, por sua vez, acompanhados por seus familiares (filhos, sobrinhos, primos) encenaram o elenco dramático do presépio em algumas casas de espetáculo do Estado, a exemplo do Teatro Santa Isabel , do Teatro da Capunga e do Teatro do Barro. De 1928 a 1952, o presépio foi apresentado duas vezes no Sítio da Trindade , e uma outra vez no Canal 6.

Existem vários compositores de músicas e de letras para presépios, em Pernambuco, a exemplo do maestro José de Souza e do diretor de teatro Pedro Baptista de Santa Rosa. Vale salientar que algumas das músicas dos presépios foram feitas através de arranjos elaboradas com trechos de óperas e operetas, tais como o Guarani e Sinos de Corneville.

Na Idade Média, afirmava-se que Jesus havia nascido em uma lapa, uma espécie de gruta ou caverna, ou a morada dos primeiros homens. Por essa razão, foram criadas as lapinhas. Estas, que eram populares no país, segundo Câmara Cascudo, perderam a religiosidade de outrora, passando a incluir danças modernas e cantos estranhos ao auto. Hoje, ressalta o folclorista, os termos lapinha (ou pastoril) e presépio são considerados como sinônimos.
                                                             

Recife, 16 de novembro de 2004.


FONTES CONSULTADAS:


BENJAMIN, Roberto. Pequeno dicionário do Natal. Recife: Sociedade Pró-Cultura, 1999.

BRITO, Ronaldo Correia de. Os vários motivos pagãos na cena do presépio. Suplemento Cultural, D. O. PE, Recife, ano 15, p.3-4, dez. 2000.

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. 1998.

FERREIRA, Ascenso. Presépios e pastoris. Arquivos, Recife, ano 2, n. 1-2, dez. 1943.

GUTEMBERG, Luiz. Auto da lapinha mágica. Cultura, Brasília, DF, ano 3, n. 11, p.4-18, out./dez. 1973.

MELQUÌADES, José. A história do presépio e a natividade. Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Natal, v. 39, n.27, p.110-115, 1998.

SILVA, Leny de Amorim (Org.). Em louvor do Natal. Recife: Academia Pernambucana de Música. 1992/1993.

VALENTE, Waldemar. O presépio dos Valença. Recife: Centro de Estudos Folclóricos/Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1979. (Série Folclore, n. 79).

________. Pastoris do Recife antigo e outros ensaios. Organização e apresentação de Mário Souto Maior. Recife: 20-20 Comunicação e Editora, 1995.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Presépio. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

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