segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ENTREVISTA: Caminhos para o agronegócio sustentável


ENTREVISTA: Caminhos para o agronegócio sustentável
http://www2.ana.gov.br/Paginas/imprensa/noticia.aspx?List=ccb75a86-bd5a-4853-8c76-cc46b7dc89a1&ID=11079

26/8/2012
Durante a Conferência da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento sustentável - Rio+20, em junho, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) representou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA, entidade presidida por ela, e defendeu que os países que produzem alimentos sustentavelmente, como o Brasil, sejam compensados pela adoção de práticas corretas de produção.

InpEV - Como a senhora avalia os resultados da Rio + 20 no que se refere à agricultura? Foram atingidos os objetivos esperados?

Senadora Kátia Abreu - A mudança de comportamento e de atitude em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade e o aprofundamento deste debate no Brasil e no mundo, desde a Eco+92, marcam o saldo positivo deixado pela Conferência da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento sustentável - Rio+20. Faltou, no entanto, a definição de recursos efetivos para o financiamento da economia verde e de metas para o Desenvolvimento sustentável. Sem essas iniciativas, a oferta global de alimentos e a competitividade do agronegócio brasileiro ficarão comprometidas. Defendi, na Rio+20, que os países que produzem alimentos de forma sustentável, como o Brasil, sejam compensados pela adoção de práticas corretas de produção. A discussão sobre esse tema específico pouco avançou devido à crise dos países desenvolvidos, que resistem em compensar as nações em desenvolvimento que produzem de forma sustentável, o que é ruim especialmente para o Brasil.

InpEV - Quais foram as principais propostas levadas pela CNA para o evento?

Senadora Kátia Abreu - Encaminhamos à presidente da República, Dilma Rousseff, uma carta com as propostas da CNA para a Rio+20, ressaltando que o setor rural vem respondendo com rapidez e eficiência às demandas contemporâneas por Desenvolvimento sustentável. O pagamento por serviços ambientais é uma das sugestões do documento, que trata, ainda, dos mecanismos para calcular a redução das emissões de carbono e gases de efeito estufa e da proposta de criação de um conceito mundial de Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas margens dos rios, tema que tem sido defendido, no Brasil e no exterior, pela CNA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e Agência Nacional de Águas (ANA). É fundamental, neste debate, reduzir as assimetrias da regulamentação ambiental entre as nações, sem ferir o princípio da soberania.

A CNA propõe, ainda, o financiamento para recuperação de terra degradada e a implantação de um serviço de extensão rural, que capacite os produtores rurais para as práticas sustentáveis. Avaliamos que os insumos tecnológicos precisam ser democraticamente disseminados, especialmente para os pequenos produtores, para que possam produzir e garantir renda. No documento, a CNA também reforça a necessidade de assegurar o desmatamento zero na Amazônia, o que será possível com a adoção de tecnologias que incrementem a produção local sem a necessidade de abrir novas áreas de floresta nativa. Tenho defendido essa proposta desde 2009 e, para mim, ela continua atual.

InpEV - Como foi a repercussão das práticas sustentáveis já adotadas pelo Brasil? Como a senhora avalia a atuação do Sistema Campo Limpo (logística reversa de embalagens vazias de agrotóxicos) nesse cenário?

Senadora Kátia Abreu - Na Rio+20, a CNA liderou o espaço AgroBrasil, onde apresentou seus principais projetos e modelos de agricultura sustentável. No Pier Mauá, onde foi montando o estande, os visitantes puderam ver de perto uma maquete de 100 metros quadrados que mostra o funcionamento de uma propriedade rural dentro das exigências da legislação brasileira, com as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de reserva legal, além das tecnologias da agricultura de baixo carbono, como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta.

Quem visitou o AgroBrasil também pode andar por um túnel multisensorial de 300 metros quadrados, que começa com uma propriedade rural degradada e se transforma em uma fazenda sustentável. Ao longo do caminho os visitantes participaram de jogos interativos em monitores instalados dentro do túnel e, ao final, conheceram uma propriedade rural recuperada, em um ambiente equilibrado, onde foi possível ouvir os sons da natureza. Também houve grande interesse pelas máquinas da agricultura de precisão e pela linha do tempo sobre a história da agricultura brasileira.

O interesse demonstrado pelo espaço do AgroBrasil mostra que a população quer conhecer a realidade do agronegócio brasileiro, que responde por 22,4% do Produto Interno Bruto (PIB), 37% das exportações e 1/3 dos empregos. No estande, foram disponibilizadas informações sobre a agropecuária brasileira, que produz grãos, carnes, madeira e matéria-prima para a produção de biocombustíveis em 27,7% do território nacional e preserva 61% do País com florestas nativas originais.

Essa iniciativa da CNA e das outras empresas que participaram do AgroBrasil se soma a outras ações positivas voltadas à sustentabilidade. Entre elas, podemos citar o Sistema Campo Limpo, que orienta e encaminha para destinação correta as embalagens vazias de agrotóxicos. O crescimento de 9% do volume recolhido em 2011 mostra que os produtores rurais e a sociedade entenderam a importância e a contribuição desta prática para o gerenciamento sustentável das propriedades rurais e dos espaços urbanos, com resultados positivos para a saúde da população.

InpEV - Quais os próximos passos da CNA, levando em conta os avanços resultantes da Rio + 20?

Senadora Kátia Abreu - Nossa expectativa é que avance e ganhe novos adeptos a proposta da CNA, Embrapa e ANA de criação de um conceito global de Área de Preservação Permanente nas margens dos rios, para garantir a qualidade da água. O Brasil tem 12% da água doce do mundo e uma das legislações ambientais mais rígidas do planeta, que prevê a obrigatoriedade de manutenção, nas propriedades rurais, de áreas de APP e de reserva legal, que oscila, dependendo da região do País, entre 20% e 80% das fazendas. No entanto, essa não é uma realidade em outros países, especialmente nas nações desenvolvidas, que não impõem a seus produtores rurais restrições para o uso da terra. Os esforços dos agricultores brasileiros para produzir de forma sustentável precisam ser reconhecidos e compensados, porque o custo da preservação de um bem coletivo não pode ser exclusivo de um grupo. Esse pagamento vai garantir que a remuneração seja oriunda não só da venda de grãos, carnes e de outros produtos agropecuários, mas também das práticas sustentáveis implementadas nas fazendas. Acabar com as assimetrias de regulamentação ambiental entre as nações, sem ferir o princípio da soberania, é fundamental no debate pós-Rio+20.

InpEV - Qual a expectativa para que os resultados alcançados se traduzam em avanços reais?

Senadora Kátia Abreu - Avanços reais mais significativos dependem de vários fatores. Entre eles, podemos citar a necessidade de criação de um fundo para financiamento de práticas corretas. Não dá para falar em economia sustentável sem poder contar com os recursos de um fundo, primordial também para financiar a recuperação de áreas degradadas. Na minha opinião, os recursos desse fundo precisam ser emprestados para pagamento com prazos mais longos e taxa de juro zero.

Texto:Cenário MT

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