terça-feira, 13 de novembro de 2012

Recursos Naturais, Recursos humanos, artigo de Efraim Rodrigues



Publicado em novembro 13, 2012 por HC
http://www.ecodebate.com.br/2012/11/13/recursos-naturais-recursos-humanos-artigo-de-efraim-rodrigues/

O Furacão Sandy provocou 71 mortes durante a passagem na América Central. Foto Agência Lusa/EBC

[EcoDebate] Na segunda, um aluno me perguntou se acredito que a falta de recursos naturais levará a um colapso.

Entre ouvir e responder, pensei nos muitos processos ecológicos que já não funcionam mais e como já vivemos o colapso em tantas dimensões de nossas vidas. No entanto, não levei a resposta para este lado porque imaginei que o aluno não se referia ao colapso cotidiano de quem tem olhos para ver, mas ao colapso cinematográfico de filmes como “Planeta dos Macacos”, “Eu sou a lenda” ou o “Livro de Eli”. A consequência de fazer referências frequentes a filmes é que os alunos fazem também…

Na semana passada com o furacão Sandy tivemos mais uma amostra de como tem sido o colapso, e o futuro será mais do mesmo.

O jornalista João Charleaux na Folha de São Paulo de domingo, lembrou-me que ninguém falou de Sandy até ele ameaçar os EUA, mesmo tendo matado 71* pessoas na América Central e Caribe.

Este mundo não é um lugar justo e igualmente, os colapsos que as pessoas experimentam também não são iguais.

Se você não tem água corrente em casa, as coisas vão ficar cada vez mais complicadas para você, porque além de haver cada vez menos água limpa, as doenças, o trabalho e o custo para conseguir água serão cada vez maiores. Muitos recursos naturais vão ficando cada vez mais caros até desaparecerem ou serem substituídos.

Não há conversa sobre recursos naturais sem mencionar quem são seus donos. O ar talvez seja o único recurso natural que ainda não é de ninguém (talvez por isto esteja tão cheio de carbono). Os 20% mais ricos do planeta são donos de 82% de toda riqueza, recursos naturais incluídos. Há, inclusive, ilhas de riqueza dentro de outras ilhas. Os 1% mais ricos são donos de 40% de toda riqueza, deixando para os outros 19% os 42 restantes.

Da mesma forma, na rica Ilha de Manhattan a vida já está entrando nos trilhos com a energia sendo religada, o que está ainda longe de acontecer nos bairros mais pobres, enquanto muitos na América Central e Caribe nem eletricidade têm.

Enquanto o colapso ambiental para uns representa uma ameaça para seus negócios, para outros é ver seus afazeres inviabilizados e para outros é passar fome. Se há algo improvável em nosso futuro, é um filme de Hollywood sobre como a noção de colapso ambiental varia de acordo com o extrato bancário.

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/

*Nota do EcoDebate: De acordo com a Agência Lusa, a passagem do Furacão Sandy, rebaixado à categoria de tempestade, pelo Caribe deixou para trás um rastro de 71 mortes. Apenas no Haiti foram 54 mortos.

EcoDebate, 13/11/2012

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OPINIÃO
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/75952-tempestade-surgiu-no-caribe-mas-so-entrou-em-pauta-nos-eua.shtml

Tempestade surgiu no Caribe, mas só entrou em pauta nos EUA
JOÃO PAULO CHARLEAUX
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto o furacão Sandy matava 69 pessoas na América Central e no Caribe, pouco se via sobre ele nos jornais daqui. Bastou a ventania entrar nos radares americanos para entrar, também, na pauta da imprensa brasileira com força total.

Agora, escoado o aguaceiro, resta, além das mortes, a ideia de que ainda falta ao jornalismo internacional brasileiro criar sua própria agenda, em vez de comprar a dos outros.

Não é fácil. Ter como ofício a missão de decidir que morte é digna ou não de entrar na edição é tarefa ingrata. Na dúvida, a saída é sempre seguir a pauta dos grandes jornais do Norte, o que faz com que o rádio do meu carro me dê a impressão de estar dirigindo em Nova York algumas vezes.

Nas Redações, a piada mais comum é a de que um americano assustado equivale a uns 40 centro-americanos mortos ou uns 50 corpos africanos e por aí vai.

A vida humana, para os jornalistas, não tem, definitivamente, o mesmo valor em todo o mundo.

E o drama de um personagem que tenha o perfil do meu leitor "rende mais" que o de um senhor qualquer, num excêntrico país onde a morte é tão frequente que já nem rende notícia.

E, nesse placar esquisito, o Brasil entra lá embaixo. Prova disso é o resultado da comparação entre o tsunami de fevereiro de 2010 no Chile, com seus mais de 500 mortos, e a tragédia das chuvas, que deixou mais de mil mortos na região serrana do Rio de Janeiro, um ano depois.

Nosso tsunami tem hora marcada. Vem todo ano. Aliás, o próximo já está chegando. Mesmo assim, nem o governo nem a imprensa nativa criaram ainda a cultura necessária para trabalhar com esses desastres naturais. Todo ano, é como se fosse a primeira vez.

Nisso talvez os Estados Unidos possam nos ensinar muito. E é justamente aí que está o ponto mais positivo da cobertura em questão.

JOÃO PAULO CHARLEAUX é jornalista, trabalhou oito anos na Cruz Vermelha Internacional e cobriu o pós-terremoto no Haiti e o pós-tsunami no sul do Chile, ambos em 2010.


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