sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Rios da Amazônia não serão alvo de “grandes reservatórios”, diz MME


Diretoria de Meio Ambiente
http://www.meioambiente.ufrn.br/?p=14758

Divulgado em: 11/01/2013

Se por um lado o governo planeja acionar permanentemente as usinas térmicas, medida de causar pânico entre ambientalistas, por outro, ele admite que o tempo de o Brasil construir hidrelétricas com grandes reservatórios, como fez durante as décadas de 70 e 80, já passou.

O esvaziamento dos reservatórios atuais fez reacender a discussão sobre a necessidade de se construir grandes represas, com o propósito de ter mais controle sobre a vazão da água e, assim, da geração de energia. Essa polêmica, no entanto, já não tem razão de existir, segundo Altino Ventura Filho, secretário de planejamento e desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia (MME).

“A próxima fronteira hidrelétrica do Brasil está na região Norte, nos rios da Amazônia, mas esses rios não têm vocação para grandes reservatórios. São rios de planície. Eles não têm, portanto, condições de ser fazer reservatório de regularização”, disse Ventura.

O governo tem conseguido avançar com usinas na região Norte baseado em hidrelétricas a fio d”água. Nesse tipo de projeto, em vez de as turbinas aproveitarem uma forte queda do nível da água, elas utilizam a própria força de vazão do rio para gerar energia. Isso não significa, porém, que não exista uma barragem por trás das máquinas. Belo Monte, por exemplo, em construção no rio Xingu, no Pará, é uma usina a fio d”água, mas que se apoia na construção de um canal com cerca de 20 km de extensão e um lago com mais de 500 km quadrados de área.

Segundo Ventura, os principais rios da Amazônia voltados para o aproveitamento hidrelétrico – Xingu, Tocantins, Teles Pires, Juruena e Tapajós – não possuem condições topográficas e ambientais que viabilizem a construção de um “reservatório de regularidade”. Esse tipo de represa de grande porte é construído pontos iniciais dos rios para que, ao longo de seu trajeto, uma sequência de usinas aproveite o fluxo da água para a geração de eletricidade.

É o que foi feito na década de 70 na Bacia do Rio São Francisco, com a construção da barragem de Sobradinho. A Chesf, do Grupo Eletrobras, ergueu uma sequência de usinas abaixo da barragem, um complexo que hoje responde por cerca de 15% da energia do país. “Os projetos do São Francisco permitem uma gestão com o aproveitamento máximo dele. Se decidíssemos fazer essa barragem hoje, ela certamente não seria feita por conta de restrições ambientais”, disse Altino Ventura Filho.

Quando o sertão virou mar em Sobradinho, foram inundados 4,2 mil km quadrados de terra, oito vezes a área que será alagada por Belo Monte, encarado hoje como o mais polêmico projeto hidrelétrico do país, ou do mundo.

A bacia do rio Paraná é outra que, além do São Francisco, possui reservatório de regularidade, onde foram instaladas as hidrelétricas de Furnas, Itumbiara e Nova Ponte. Com esse tipo de reservatório, explica Ventura, é possível fazer uma “gestão plurianual” da água, utilizando o estoque por até três anos, enquanto em usinas a fio d”água trabalha-se com apenas meses de controle da água.

Com ou seu regularidade, o fato é que grandes reservatórios vêm por aí. No rio Tapajós, as usinas de São Luís e Jatobá – ambas a fio d”água – estão projetadas para inundar um total de 1.368 quilômetros quadrados de floresta virgem, uma área quase do tamanho da cidade de São Paulo.

Os dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam que o Brasil é dono do terceiro maior potencial hidrelétrico do planeta. O país detém 10% de todo o recurso hídrico mundial, só atrás da China (13%) e da Rússia (12%). De todo esse potencial, segundo a EPE, apenas um terço é utilizado até hoje para geração de energia. Ocorre que 66% do que ainda não foi explorado está na região Norte. Segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), atualmente há 30 usinas hidrelétricas planejadas ou em fase de construção na Amazônia.

O governo estima que, entre 15 e 20 anos, todo o potencial hídrico do país já estará aproveitado. “Não temos outra saída. Vamos buscar outras formas de geração”, disse Altino Ventura Filho, do MME. (AB e RB)

Fonte: Valor Econômico
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artigo relacionado:

década de 90

Impactos ecológicos das represas hidrelétricas na bacia amazônica brasileira*

Wolfgang J. Junk; J. A. S. Nunes de Mello

Estud. av. vol.4 no.8 São Paulo Jan./Apr. 1990

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141990000100010 




A avaliação do potencial hidrelétrico da bacia amazônica encontra-se atualmente ainda em estado preliminar. Para os afluentes do rio Amazonas, exceto o rio Tocantins/Araguaia, estima-se um potencial de 73,380 MW. Isso corresponde a 45% do potencial hidrelétrico de todo Brasil (figura 2). A Eletronorte (1985) menciona que 63 represas seriam necessárias para utilizar este potencial. Para a grande maioria das represas ainda faltam dados técnicos específicos. O planejamento para o uso da energia hidrelétrica do rio Tocantins/Araguaia encontra-se mais adiantado. Vinte e sete represas estão previstas para o aproveitamento do potencial hidrelétrico de 25.300 MW, correspondendo a 15% do potencial total do país (figura 3). Como estimativa geral, pode-se supor um potencial total da Amazônia em termos de 100 mil MW. Por causa do relevo pouco acidentado da região, uma área total de cerca de 100 mil km2 seria inundada em caso do aproveitamento total deste potencial.































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artigo relacionado:

anos 2000

Governo planeja muitas hidrelétricas na Amazônia
http://ecologiaefe.blogspot.com.br/2012/09/governo-planeja-muitas-hidreletricas-na.html

O governo planeja instalar na Amazônia pelo menos 23 novas hidrelétricas, além das seis já em construção na região. Segundo levantamento do GLOBO, ao todo, essas 29 hidrelétricas vão gerar 38.292 MW, quase metade dos 78.909 MW produzidos pelas 201 usinas hidrelétricas em operação hoje no país. Sete delas, como as das bacias do Tapajós e do Jamanxim, serão feitas no coração da Amazônia, em áreas de floresta contínua, praticamente intocadas. Outras estão em áreas remanescentes importantes de floresta amazônica, como o conjunto de sete hidrelétricas planejadas nos rios Aripuanã e Roosevelt, no Mosaico de Apuí, com impacto direto em 12 unidades de conservação de proteção integral e terras indígenas. A região, ao Sul do Amazonas, foi considerada de prioridade extremamente alta para conservação pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2006.

Somados, os 29 projetos alcançam 31% da capacidade potencial de geração de energia das duas principais bacias hidrográficas da região, as dos rios Amazonas e Tocantins, e 14 deles usam R$ 78 bilhões em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Verbas do PAC foram destinadas até para usinas que sequer receberam aval ambiental: São Luiz do Tapajós (R$ 18,1 bilhões), Jatobá (R$ 5,1 bilhões) e Marabá (R$ 2,27 bilhões). Os planos vão além: está em andamento o estudo para aproveitar a Bacia do Rio Negro.
— A Amazônia é a bola da vez, e é necessário se antecipar aos problemas, não pedir desculpas pelo já feito. É preciso ter princípios adequados à lógica da região. Na Amazônia, a questão ambiental se sobrepõe a todos os fatores. Não dá para fazer uma usina atrás da outra — diz João Gilberto Lotufo, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), que acaba de finalizar o Plano Estratégico de Recursos Hídricos dos Afluentes da margem direita do Rio Amazonas.
Última fronteira a ser desbravada, a Amazônia pode gerar 121.246 MW, equivalentes a 48,72% do potencial do país. Além das hidrelétricas, outras 11 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) estão em rios amazônicos — cinco em obras e seis já outorgadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
— Estamos planejando com o maior cuidado e procurando reduzir ao mínimo o impacto — afirma Altino Ventura, secretário de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia. Se forem acrescentadas à lista as usinas de Estreito e Santo Antônio, que entraram em operação em 2011, as novas usinas vão gerar 42.529 MW, o que significa aumento de 53,9% na capacidade instalada do país. — Metade da energia prevista para entrar no sistema até 2020 está na Amazônia. Podemos abrir mão? — indaga Ventura.

O entusiasmo com a construção de hidrelétricas contrasta com as preocupações ambientais. O Amazonas deve receber quatro delas. O governo do estado é contra. — Não somos contra o crescimento econômico, mas ele não precisa ser predatório. O governo precisa olhar outras soluções — diz Anderson Bittencourt, coordenador de Energia da Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas, que projeta uma usina solar em Manaus. Bittencourt diz que a primeira consulta pública sobre as usinas foi em Manaus, a mais de mil quilômetros das comunidades afetadas, onde vivem 112 mil pessoas.
As novas hidrelétricas na Amazônia — incluindo as recém-inauguradas Santo Antônio e Estreito — alagarão uma área de ao menos 9.375,55 quilômetros quadrados, quase oito vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. A área inundada diminuiu em relação a obras do passado. Em média, serão 0,22 km²/MW contra uma média nacional de 0,49 km²/MW. As duas maiores usinas, São Luiz do Tapajós e Jatobá, ambas no Tapajós alagarão 1.368,85 quilômetros quadrados, quase o tamanho da cidade de São Paulo. A São Luiz do Tapajós deve gerar 6.133 MW; será a quarta maior do país, atrás de Belo Monte, Tucuruí e Itaipu. A terceira maior usina desta lista é a de Marabá, com operação planejada para 2018 e capacidade de 2.160 MW. Possui o maior reservatório entre as novas, de 1.115 quilômetros quadrados, e poderá deslocar 40 mil pessoas que vivem às margens do Tocantins em nove municípios de Pará, Tocantins e Maranhão. Na região, está a reserva indígena Mãe Maria e o Parque Estadual do Encontro das Águas.

Para o biólogo Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Brasil deve buscar novos caminhos: — É preciso repensar a lógica para, no futuro, não se arrepender de ter acabado com os rios da Amazônia. É mais barato fazer um plano de redução do consumo. No Brasil, 5% do gasto são de chuveiro elétrico — diz o biólogo.
Fonte: Jornal O Globo, dia 23/09/12.


Um comentário:

  1. USINAS DE FIOD’ÁGUA E A DEMANDA DE PONTA
    A Região Amazônica reúne as piores condições de armazenamento de energia por meio de reservatórios. A configuração não é, tipicamente, a de uma bacia única integrada, mas várias bacias isoladas, cujos rios não têm ligação física entre si, nem com os rios do Sudeste o que é um obstáculo a integração. *
    Considerando que, localmente, a maior parte dos potenciais tem pequena altura e que a superfície alagada deva ser limitada por questões socioambientais, os novos reservatórios, comparativamente a Furnas, terão volumes reduzidos por dois fatores: altura e superfície alagada.

    Construir reservatórios na Amazônia é “chover no molhado”, isto é, transformar a região mais inundada do mundo num gigantesco espelho d’água, capaz de interferir no clima. O relevo, por si só, já constitui um obstáculo natural. Significa repetir a experiência mal sucedida da construção de açudes que transformou o nordeste no semiárido mais inundado do planeta.

    O que mais caracteriza os potenciais da região Amazônica é que em sua maioria são potenciais de fio d’água, de baixa altura local e situada em planície de baixa altitude, tecnicamente incapazes de constituir estoques de energia.

    Comparativamente, o estoque de energia depende ao mesmo tempo da altura local e da altitude. A altura local limita o volume do reservatório em região de baixa declividade e a altitude limita o estoque que esse reservatório pode constituir.
    Nada impede, entretanto, que a energia de recursos de fio d’água seja enviada para suprir demanda no período seco do Sudeste, cujos reservatórios podem ser mantidos cheios com a água economizada. Mas, esta é uma possibilidade ilusória, conquanto inteligente. Estoque de energia é uma variável sistêmica que não está localizada em um ponto determinado do sistema. É uma variável que pertence ao sistema como um todo, cujos componentes se transformam em energia elétrica nas diversas alturas das usinas de jusante do mesmo caminho da corrente do rio assim que o volume dos reservatórios de cabeceira libera água. Ora, não se pode reter água nestes reservatórios sem comprometer o funcionamento das usinas de jusante, de cuja vazão sua capacidade é dependente.

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