quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

SP: homem constrói fortaleza e ajuda comunidade a enfrentar enchentes


O senhor de 73 anos era vítima das enchentes. Depois de perder quase tudo, criou um sistema de alerta, fornece dados para a Central de Emergências, e até colocou sirenes no telhado para avisar os vizinhos.
Rodrigo Alvarez
São Paulo, SP



Os problemas se repetem todos os anos, na mesma época do ano. E, apesar disso, as cidades brasileiras não estão preparadas. Até mesmo as mais ricas, como São Paulo.

A prova da urgência do problema das enchentes é a escolha do novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, de tratar do assunto já no primeiro dia útil dele no cargo.

O Bom Dia Brasil encontrou na cidade um senhor de 73 anos que há muitos verões é vítima das enchentes. Ou melhor, era. Até resolver agir para proteger a própria casa e a dos vizinhos.

Pode cair um pé d’água, pode ventar, pode alagar. A fortaleza do Jardim Juçara, em São Paulo, expulsa qualquer invasor. Depois de perder quase tudo para as águas, depois de perder a esperança no poder público, o ex-motorista Djalma Kutxfara partiu para guerra sozinho. “O rio subia, inundava tudo aqui. Eu fiz o muro reforçado, fiz as comportas”, afirma Djalma.

Mesmo com a muralha, a água encontrava caminho pela rede de esgotos, aparecia dentro de casa. Djalma instalou, então, uma válvula para barrar a invasão pelos tubos. “A água da enchente não entra por aqui, mas também a água do meu quintal não sai. Minha casa estava sendo inundada depois de duas, três horas de chuva, pela água do quintal, que não tinha onde sair. Então eu fiz essa caixa do lado”, explica.

A caixa é uma espécie de piscinão particular de 1,1 mil litros, que depois de cheio mandava tudo pelos ares. “Eu falei: ‘Em vez de eu jogar essa água fora, que em tese é uma água limpa, do quintal, água da chuva, eu pego essa mangueira, engato e eu rego meu jardim, lavo meu carro, lavo o quintal”, diz.
Djalma virou referência. Instalou um pluviômetro e agora fornece dados para a Central de Emergências da cidade de São Paulo. Cansado da ineficiência dos sistemas de alerta, botou quatro sirenes no telhado. “Eu avisava por telefone, mas era muito difícil, não dava tempo de avisar todo mundo. Olha só, a vizinha saiu, ela achou que estava dando enchente”, relata.

“Fiquei assustada, vim correndo. Eu e a vizinha aqui do lado também”, diz.

A mistura de planejamento com prevenção, liderança, preocupação com a comunidade, que o seu Djalma faz no Jardim Juçara sem ganhar um centavo pelo trabalho, a gente dificilmente vê pelas prefeituras do Brasil. O mais comum são ações de última hora, medidas tomadas depois que o problema já aconteceu. O problema é que a hora já chegou. Quem fez, fez. E quem não fez vai ter que enfrentar o risco. As chuvas de verão já estão a caminho.

Belo Horizonte, por exemplo, recebeu no ano passado a aprovação de R$ 800 milhões do Governo Federal para fazer obras de escoamento e remover 1,3 mil famílias em áreas de risco. Segundo a prefeitura, o dinheiro foi liberado, mas ainda falta detalhar e apresentar os projetos ao Governo Federal. Se tudo correr bem, as obras ficam prontas no ano que vem. Enquanto isso, mais de 2,7 mil famílias continuam correndo risco.

Tom Jobim falava das águas de março, mas, historicamente, janeiro é que o mês dos dilúvios. Em São Paulo, o novo prefeito prometeu melhorar a coleta de lixo e mandou reforçar a limpeza em caixas e ramais em 132 pontos que costumam alagar. A cidade ainda tem mais de 400 áreas de risco.
Em duas décadas de batalha, Djalma perdeu a conta de quantos vezes bateu na porta de políticos pedindo medidas para conter as enchentes. “Peguei a Constituição, comecei a ler e vi que tem emenda que diz que o Estado também era responsável”, conta.

Djalma não para. Aos 73 anos, resolveu entrar na briga para impedir que a chácara de 151 mil metros seja transformada em um conjunto habitacional. Se for tudo asfaltado, ele diz, podem vir mais enchentes. “Se há 30 anos tivesse alguém de cabeça dizendo gente nós não podemos construir prédio, não podemos asfaltar tudo quanto é rua, nós não podemos tirar árvore, nós temos que fazer uma preservação da natureza para daqui a 30 anos não ter problema na cidade”, ressalta Djalma.

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/01/sp-homem-constroi-fortaleza-e-ajuda-comunidade-enfrentar-enchentes.html

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